domingo, 14 de novembro de 2010

DINHO

Haroldo Inácio Nogueira e Silva, mas conhecido como Dinho (de Haroldinho), nasceu no dia 24 de Junho de 1995. “Tem que ser João!” Dizia a avó católica fervorosa. Foi um bebê muito esperado, por sua mãe ter tido dois abortos espontâneos anteriormente, o que fez dele um ser humano bem celebrado. Filho único. Dinho fora um bebê comum, como outro bebê, muito paparicado, cheio de firulas e tido como um mongolóide, assim como qualquer bebê no mundo. Porém ele surpreendeu a todos quando no natal de 1997, com apenas dois anos de idade, disse pro pai que queria fazer Psicologia e depois mestrado em Administração pra se tornar a próxima Marluce Dias. A mãe bebeu o vinho direto da garrafa. Enquanto a avó festejava o sábio-prodígio-gênio-infante que ali brincava de montar blocos abstratos com Lego. O pai pegou o telefone e ligou para o cunhado, editor de um jornal popular. “Meu filho é um gênio”, dizia seu Donival Silva e Silva, flamenguista fervoroso, usava sandálias de avô e bermudas cáqui. Daí em diante a vida do garoto mudou drasticamente. Ele passou a freqüentar aulas auxiliares e fazia provas de séries avançadas, chegando a concluir o fundamental em 2005 e o médio em 2007. Era fluente em seis idiomas e queria seguir a carreira de Diplomacia. Passou em primeiro lugar no exame da PUC para Direito, conseguindo bolsa integral e iniciando o curso superior no segundo semestre de 2008 com apenas 13 anos recém completos. Não bebia com a galera, não jogava futebol, e os trabalhos da faculdade tinham que ser em sua casa. “Criança de 13 anos não fica fora de casa sem supervisão” dizia Dona Lúcia Moraes Nogueira, torcedora passiva do Avaí, por ainda imaginar que o time tivesse algo a ver com o 49º estado americano. Celebrado na universidade como promessa acadêmica, ele fez parte de clubes de xadrez, debate sobre o negro na áfrica, e participou ativamente dos debates universitários acerca das eleições presidenciais americanas, defendendo o então presidente eleito Barack Obama. Hoje eu vi o Dinho passar na rua, de tênis Nike, mochila Wilson e camisa da Hering. Simples. Com óculos de aros grossos, e uma lente ainda mais grossa que chega a sobrar na armação, provavelmente caminhando rumo às aulas de mandarim. Dinho graduar-se-ia com louvor obtendo um CR de 9,2 em Julho de 2012. Ofertas de mestrado no exterior estourariam em seus ouvidos e caixas de e-mails. No início de 2013 ele poderia ser encontrado nos corredores da London School of Economics em seu mestrado em Direitos Humanos e Políticas Estruturais e Afirmativas. Concluiria seu strictu sensu em 2015, sendo chamado pra trabalhar como analista de da Alta Comissão de Direitos Humanos da ONU em Nova York, com início imediato. Aos 20 anos, Dinho encontrar-se-ia em seu flat no bairro do Soho. Enquanto ele olharia para a rua, e via os carros com pessoas normais que ele nunca fora. Os casais que passeavam e riam ao cochichar besteiras em ouvidos alheios. Os pombos que se acomodavam em pares nos fios elétricos na Lafayette Street. E então, pela primeira vez em 20 anos. Dinho permitir-se-ia chorar.


Humberto Fernandes. 12Nov2010

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